Texto transcrito de uma palestra que dei na Universidade Federal de Pelotas e publicado
no livro Saberes e Linguagens de educação e comunicação, organizado por Tânia Maria E. Porto,
editora daUFPel, Pelotas, 2001, páginas 19-44.
Quanto mais eu mexo com a Internet, mais sinto que a questão está em outro lugar. Internet é fácil de aprender, é uma tecnologia legal, você a domina em pouco tempo. Mas a questão humana é um desafio que as tecnologias não conseguem dar conta.
A Internet é uma mídia de pesquisa, cuja palavra chave é a “busca” o “search”. É também uma mídia de comunicação, com ferramentas como o “chat”, o “e-mail”, o fórum. Mas, fundamentalmente, a Internet começa a ser um grande meio de negócios, um espaço onde estão surgindo novos serviços virtuais, on-line. A Internet está ainda engatinhando, é uma nova mídia de comunicação, é como a televisão na década de 40, no começo da década de 50. Ela ainda está numa fase muito embrionária, mas vai explodir. Em 10 anos ela será mais famosa do que a televisão hoje, porque ela, de alguma forma, vai-se ligar com todas as outras mídias, porque ela não vai ser acessada somente por um computador, que é caro, mas também por outras tecnologias, agora pelo celular, vai estar no carro, vai estar na nossa casa, em qualquer eletrodoméstico, teremos um acesso por mil formas que nós hoje nem imaginamos. Será uma mídia extremamente popular nesses próximos anos. Ela vai-se tornar a maior mídia de massa.
Caminhamos para formas de comunicação audiovisual pela Internet de uma parte dos brasileiros, não de todos. Mas a qualquer momento você poderá ver e ouvir facilmente os outros, e a um custo barato. Isso é algo que até agora só as pessoas da televisão fazem, repórteres e apresentadores, vendo-se e conversando ao vivo de diferentes países. Com a Internet e a velocidade... isso vai ser relativamente fácil e barato. Só que isso também não vai diminuir as desigualdades, pelo menos a curto prazo. A questão tecnologia não vai ser resolvida. Mesmo que se tenha a televisão hoje, de que adianta só ter o acesso? A televisão não muda o modelo social, faz com que mais pessoas tenham acesso, mas dentro de um mesmo modelo concentrador (os mesmos falam para os demais).
Há uma expectativa exagerada em relação às tecnologias, mas elas realmente vão mudar algumas coisas. Vamos poder estabelecer pontes entre o presencial e o virtual, entre estarmos juntos fisicamente e só conectados. Em um curso que dei há pouco na pós-graduação de Comunicação da USP, fui apresentando o seu conteúdo numa página. Ao mesmo tempo, esse conteúdo gerou uma série de pesquisas que depois nós fomos divulgando. Tínhamos uma série de discussões em tempo real e off-line. Tudo foi gerenciado por um programa que integrava o conteúdo, a comunicação e a administração do curso. Os alunos enviaram seus textos, comunicaram-se por fórum, conversamos em várias salas de chat, a distância, para trabalhos em grupo, dar orientação, tirar dúvidas.
Como nem sempre é possível reunir os alunos em horários predeterminados, organizei também discussões gerais ou grupais no fórum. É um espaço onde se podem criar tópicos de discussão e cada um escreve quando o considera conveniente. Havia fóruns gerais, para todos e também para grupos, para discutir assuntos específicos e facilitar a interação. Os fóruns de grupos podiam ser abertos a todos ou só para cada equipe, dependendo do grupo e da atividade.
As ferramentas de comunicação virtual até agora são predominantemente escritas, caminhando para serem audiovisuais. Por enquanto escrevemos mensagens, respostas, simulamos uma comunicação falada. Esses chats e fóruns permitem contatos a distância, podem ser úteis, mas não podemos esperar que só assim aconteça uma grande revolução, automaticamente. Depende muito do professor, do grupo, da sua maturidade, sua motivação, do tempo disponível, da facilidade de acesso. Alguns alunos comunicam-se bem no virtual, outros não. Alguns são rápidos na escrita e no raciocínio, outros não. Alguns tentam monopolizar as falas (como no presencial), outros ficam só como observadores. Por isso, é importante modificar os coordenadores, incentivar os mais passivos e organizar a seqüência das discussões.
Aqui outra página, outro espaço de comunicação, fórum, correio, ajuda, dicas, colaboração e bate-papo. Essa é outra cara dessas ferramentas, esse é o conceito de fórum, quer dizer os fóruns são mensagens que estão sendo enviadas pelos alunos de onde eles quiserem, da casa deles. Aí existem informações, perguntas, contribuições ao curso, você pode organizar isso por grupos.
Aqui é uma sala de bate-papo (chat). Podemos resgatar aquele conceito de chat para a educação. Podemos discutir a distância alguns assuntos ligados a nossa matéria. Então, o programa prevê algumas salas, são salas de bate-papos onde você pode realizar certas discussões com os alunos, colocá-los em grupos na sala 1, sala 2, sala 3, sala 4, simultaneamente e tudo o que é feito nesse momento é gravado, disponibilizado. Então, de alguma forma é um espaço de discussão, mas ao mesmo tempo é um espaço de aprendizagem que pode ser disponível.
Aqui é uma das salas. Você escreve embaixo e tudo vai aparecendo aí em cima com o seu nome. À direita aparecem os usuários, quem estão conectados. Em alguns momentos em que os alunos estavam distantes de mim geograficamente, eu tinha uns que não eram nem do mesmo Estado, de São Paulo. Nós nos encontrávamos e fazíamos atividades com a mesma página, com a mesma sala. É muito inferior a poder estar fisicamente juntos, mas é muito interessante sentir quando uma pessoa estava em Belo Horizonte, outra em Curitiba e outra em São Paulo, e todos podiam discutir o mesmo assunto na mesma tela.
Aqui há, ao mesmo tempo, algum apoio para os alunos, materiais que você disponibiliza, como bibliotecas virtuais, endereços básicos para pesquisa em educação a distância, que era o que nós estávamos trabalhando.
Simultaneamente, participei de outro curso de especialização na PUC do Paraná. Primeiro entrei em contato físico com os alunos, depois nos encontramos no ambiente Eureka, um programa que nos permite gerenciar o curso a distância. De São Paulo ou de outra cidade, pude apresentar novos textos, responder e-mails, comunicar-me com os alunos.
Na verdade, tudo isso não é o principal. A questão não é usar a ferramenta. O que eu queria passar para vocês como mensagem é que podemos mudar com tecnologias, mas mesmo que vocês não tenham essas tecnologias mais avançadas, podem mudar para processos participativos e investigativos. Significa que o aluno sai da posição mais passiva em que se encontra no processo de aprendizagem: ele pesquisa, ele muda de atitude de consumidor de informação, não espera que só o professor fale tudo. Podemos experimentar esta nova relação com o aluno, ajudá-lo na sua mudança de atitude, mais ativa. É um processo de envolvimento constante na busca de soluções, é compartilhar, é trocar.
O que consegui perceber nesses últimos anos é que posso falar menos numa sala de aula e, ao mesmo tempo, os alunos aprenderem. Há momentos em que eu falo, dou aula expositiva, ou ilustrativa, para situar, para contextualizar. Mas na maior parte do tempo, minha função é estimular a pesquisa, propor questões, situações, buscar experiências com os alunos, nem sempre pela Internet, muitas vezes em sala de aula, através de um texto. Incentivar que eles pesquisem, consultem bibliotecas, façam entrevistas com pessoas, e depois compartilhar e trocar os resultados com os colegas e para toda a classe, e mais tarde divulgá-los na Internet.
Com as tecnologias, o que muda é o conceito de espaço e de tempo. Lembra do meu exemplo de quando fui à Espanha? O tempo de aprendizagem se dá quando um aluno envia um e-mail. E eu, hoje, se me conecto na página dos alunos e encontro ou envio mensagens, a aula continua, mesmo a centenas de quilômetros da minha cidade.
Ao mesmo tempo, o espaço muda. Já vimos no começo que aula não é somente espaço físico, o qual é combinado também com espaços virtuais com novas interações. Isso aqui está mais distante para uns do que para outros, mas todos, pelo menos, têm que estar atentos. Ao mesmo tempo, também o processo que aí está é muito dinâmico, baseado mais em questões, em problemas, em projetos. Com tecnologias, eu posso adaptá-los mais a cada grupo e ao ritmo dos alunos. Mas vejam... isso pressupõe ter condições de trabalho, o que a maior parte dos professores ainda não possui. Então, posso fazer algumas coisas, porque me encontro numa situação diferente daquela da grande maioria dos professores. A maioria dá muitas aulas, tem muitos alunos, não tem condições econômicas e tecnológicas suficientes. Eu hoje tenho poucas turmas, poucos alunos em cada turma e tenho uma boa rede tecnológica.
O que eu estou expondo para vocês não é para que o copiem ou para que se sintam culpados se não puderem fazer isso. Tentem mudar o que lhes for possível, tornar de alguma forma suas aulas mais participativas, incentivar a que os alunos se tornem pesquisadores com as tecnologias disponíveis – jornal, televisão, vídeo, gravadores; às vezes não têm Internet, mas se tiverem podem fazer algumas coisas a mais.
É importante ir planejando e construindo, transformando uma parte das aulas no processo contínuo de pesquisa e de comunicação no qual você equilibra o planejamento com criatividade. Não podemos deixar a aula totalmente solta, tampouco totalmente amarrada. Prever as coisas e, ao mesmo tempo, ir sentindo o momento, as circunstâncias, ligar o conteúdo à vida. Planejar as aulas é, ao mesmo tempo, construí-las com processos participativos. Eu diria que isso é um desafio. Como fazer? Eu encontrei a minha forma na minha situação concreta, mas não foi de fundo tecnológico, foi um processo mais de percepção, de que envolvendo o aluno, tornando-o mais participativo, ele aprende mais. Ele aprende melhor do que somente me ouvindo. Ele pode aprender só me ouvindo, mas aprende melhor interagindo, pesquisando.
Apesar de tantas mudanças, a comunicação presencial é fundamental ainda, e vai ser sempre, para certos momentos fortes, para conhecer-nos, para estabelecermos elos de confiança. O olho no olho ainda é decisivo para definir objetivos, quando nós queremos saber o que queremos, para situar um assunto, um tema, para motivar os alunos, para elaborar cenários de pesquisa, saber o que nós vamos pesquisar. Para orientar esses alunos, para formar grupos a presença física é ainda fundamental. Eu creio que isso vai ser sempre. Mas também há momentos em que a presença virtual, a comunicação virtual é importante. Ela cria uma interação mais livre no tempo e no espaço, porque personaliza ritmos e estilos diferentes, porque integra pessoas que estão distantes geograficamente, porque permite maior liberdade, também, de comunicação. Há pessoas que, às vezes, são mais quietinhas em sala de aula e que se soltam através de Internet. Escrevem muito, escrevem bem, quando parece que não têm esse controle externo, físico. Então, é interessante essa idéia de também usar a rede como um campo de comunicação.
adorei essa sua postagem
ResponderExcluiruma dica:fale como é ser professora.
bjsss
ass:cristiano
Ser professora é uma linda lição!!!
ResponderExcluirBeijos.
Prof Silvana